segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Vitrina é a forma aportuguesada do francês vitrine.
Vitri vem do latim vitrum que designa vidro.

Segundo o dicionário Aurélio vitrina é “a vidraça atrás da qual ficam expostos objetos destinados à venda”. Ou ainda, “espécie de caixa com tampa envidraçada, ou armário com vidraça móvel, onde se guardam objetos expostos à venda ou a serem vistos”.

Segundo o dicionário contemporâneo da língua portuguesa Delta Larousse vitrina é “ a vidraça em que os lojistas expõem amostras ou exemplares das mercadorias que têm nos respctivos estabelecimentos; mostrador”.

Segundo a Grande enciclopédia Larousse Cultural vitrina é “ o armário envidraçado em que estão arranjados os objetos que se colecionam ou expõem com fins mercantis, de forma que seja fácil ao visitante observa-los.

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

A vitrine remonta ao Império Romano

A história da vitrine remonta o Império Romano, onde já havia lojas em salas retangulares, tendo ao fundo um mezanino como moradia do lojista. Naquela época, já havia a preocupação em expor os produtos em prateleiras e surgiam os primeiros esboços de um shopping center, como o Mercado Trajano, do século II D.C., que tinha seis andares e 150 lojas, organizadas a partir dos produtos que vendiam. Com o fim do Império Romano e a chegada da Idade Média, as lojas praticamente desapareceram, passando o comércio a ser feito em feiras. Foi só na Renascença que o comércio em lojas floresceu novamente, devido à era do Mercantilismo. Os joalheiros e artesãos criaram um tipo de vitrine para expor seus trabalhos, uma versão antiga da vitrine. No século XIX, com a Revolução Industrial, as lojas se proliferaram por toda a Europa e as palavras “vitrine” e “decoração” passaram a entrar em uso. Em 1850, apareceram as primeiras "bonecas de moda", feitas em porcelana e couro. Elas desapareceram quando as manequins, simulando figuras humanas tomaram o seu lugar. Foi no período da Rainha Vitória (1832-1895) que surgiram as vitrines como são hoje: janelas mostrando a mercadoria ao público passante. A partir de 1852 apareceram as primeiras lojas de departamentos em Paris, com vitrines chegando ao nível da rua. As pessoas saíam de casa "para ver vitrines". Os manequins eram feitos com mais de 100 quilos de cera – no verão derretiam, e no inverno, rachavam. Aliás, atribui-se aos franceses como pais da evolução das vitrines, cuja palavra vem do vocabulário francês (em português, o certo seria vitrina). Desde então, além de produtos e ofertas, elas exibem também mudanças de costumes, avanços da tecnologia e reflexos do tempo em que se vive. Na virada para o terceiro milênio, ganham mais arte, mesmo que a loja esteja se convertendo na própria vitrine, como acontece nas “open store”.

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segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Sobre o Luxo*

Por João Braga, professor do MBA em Gestão do Luxo - FAAP
* Luxo: Fator que encanta, símbolo de status, elemento diferencial, seja concreto ou imaterial, o Luxo trata e retrata a questão do prestígio secular.

Entender o significado das palavras é, de fato, muito curioso. E mais curioso ainda é que as mesmas palavras, normalmente, ganham significados diferentes ao longo dos tempos de acordo com o pensamento e o contexto de cada período. Podemos compreender uma palavra sob os pontos de vista etimológico, histórico, cultural, semiológico, comportamental, econômico e comercial, entre outros. Todavia, optando pela objetividade textual, a tentativa de refletir sobre o Luxo será em torno de uma generalização do seu sentido, e não o específico de cada ou de uma só vertente.

Etimologicamente, "Luxo" e "luz" têm uma mesma origem. O radical comum e originário de ambas as palavras em latim é "lux", que significa exatamente "luz". Hoje em dia, talvez estas palavras não tenham mais tanta proximidade no significado, todavia, pode-se admitir que a referência à luz esteja embutida no que diz respeito à luminosidade, brilho, esplendor e, por extensão, a um gosto resplandecente ou a uma distinção perceptível.

Porém, deve-se admitir também que o Luxo, independente da etimologia e do período observado, é um assunto muito ligado à subjetividade e, por isso, torna-se muito relativo. Sob o ponto de vista concreto, está associado à suntuosidade, ao fausto, à pompa, à extravagância, ao supérfluo, à frivolidade, à aparência, ao poder material etc.

Contudo, sob os aspectos da imaterialidade, o Luxo deixa de estar ligado a um objeto para se associar a um signo, a um código, a um comportamento, a uma vaidade, à comodidade, ao conforto, a um saudável estilo de vida, a valores éticos e estéticos, aos saberes, ao conhecimento, ao reconhecimento, ao prazer e à satisfação e, até mesmo, à discrição, ao requinte e, portanto, a um outro tipo de elegância.

No que diz respeito às questões econômicas e comerciais, o Luxo se envolve com o raro, com a restrição, com o exclusivo e, por isso, com o acesso de alto custo. Daí surge uma especulação aos seus artigos e à gestão dos bens assim caracterizados. Por estar associado à qualidade, à diferença, à raridade, à satisfação pessoal, ao reconhecimento, à preferência, ao desejo, ao sonho, ao quase inatingível e também à admiração alheia, o Luxo, de uma maneira geral, é uma diferenciação com custo mais elevado.

Entre as nações do mundo atual, parece ser a França o país que ocupa o primeiro lugar em produção, difusão e gosto em consumir os bens de Luxo, apesar da existência de todo um fausto em países orientais; seguida da Inglaterra que, por sua vez, é diferente em diversos aspectos, mas que também não abre mão das suas tradições.

Parece que, aqui, surge uma palavra de alto valor para o entendimento de uma das possibilidades de significado do Luxo: a tradição. Isso não significa estar alienado ao ar dos tempos, às modernizações, mas, sobretudo, a saber valorizar e manter as raízes, as origens, as peculiaridades e sutilezas, os estilos, as autorias e, portanto, a valorizar o tradicional.

Contudo, são de muito bom tom, na abrangência do Luxo, os valores culturais, a preservação das memórias, a valorização do passado, a herança dos ancestrais, o reconhecimento e a preservação das tradições históricas. E é exatamente aí que se faz presente a diferenciação e a subjetividade individual ou de um povo. Desta forma, o Luxo talvez seja avesso às características da indústria cultural para assim privilegiar os valores de erudição e, até mesmo, (paradoxalmente) as genuínas tradições populares.

No universo da moda, apesar de na sua origem a moda ter sido o próprio Luxo, este atualmente está muito mais próximo do estilo do que da moda propriamente dita, uma vez que moda, hoje, está relacionada aos aspectos de diluição e democratização de um estilo. Portanto, nesta área, o luxuoso está associado à alta-costura e ao prêt-à-porter requintado, às roupas de grife e aos objetos assinados (sem, obviamente, querer exibir gratuitamente a marca, mas fazendo-o com naturalidade), aos tecidos sofisticados, aos bordados, ao fazer artesanal, à joalheria e suas pedras e metais preciosos, à relojoaria, à peleteria, aos sapatos, aos perfumes, aos cosméticos, à beleza, à sedução, à qualidade, ao novo, ao diferente e ao inusitado.

Independente do setor da moda, outras práticas ou mesmo áreas podem ter também uma relação muito próxima com os aspectos do Luxo, como é o caso dos mercados de obras de arte, dos automóveis, dos iates, dos objetos de casa como cristais, porcelanas, pratarias -(e de como saber usá-los seja na decoração ou à mesa); dos tapetes -, do próprio estilo de vida e, também, de uma residência, do lazer e da diversão como cruzeiros e esportes requintados, das viagens e hotéis sofisticados, do hobby de ser um colecionador, das bibliotecas particulares e de uma boa leitura e, também, no que tange aos hábitos culinários como vinhos, especiarias, alimentos raros e caros e, por extensão, aos restaurantes refinados. Tudo isso não se refere ao exagero e à ostentação, mas em saber usar até onde o equilíbrio determinar.

Portanto, trata-se de um tema de abrangência e reflexão profundas, e que nos remete ao sonho ou à tentativa de realização de um sonho, ao desejo, à própria evolução cultural e à mudança dos tempos, obviamente sem perder as referências.

E por falar em tempo, vale lembrar que ao estarmos já no século XXI, a palavra "Luxo" também já ganhou outras conotações e, agora, agrega preceitos até então fora das tradicionais premissas, tais como, a valorização de uma consciência e atitude ecológicas, a liberdade de utilização do tão escasso tempo, a prioridade da tranqüilidade, da segurança, do conforto, da praticidade, do silêncio, da simplicidade, do autodomínio, da qualidade de vida, do respeito à diversidade cultural, do bom humor, da boa reputação, da valorização das virtudes, do compromisso social, do respeito ao semelhante, da convivência coletiva pacífica, da educação, do lazer, da distração, da introspecção, da espiritualidade e da paz. Tudo isso se sobrepõe às aparências (e principalmente às falsas aparências) e ao acúmulo de objetos e riquezas.

Com todas essas novas premissas, parece que a tão antiga subjetividade continua sendo um fator indiscutível e indispensável às características de permanência do Luxo. E, na contemporaneidade, o Luxo está mais associado a ser e manter-se, do que a ter e se exibir.

Voltando à etimologia, num mundo tão dispersivo quanto o atual, o grande Luxo continua estando associado à sua origem em "lux", porém, numa nova ética, fugindo da luminescência e privilegiando a iluminação.

* Originariamente escrito para suas aulas no curso do MBA de Gestão do Luxo, em 2004, este artigo foi publicado na revista Costura Perfeita.